Ana Rúbia

Ana Rúbia

“Era setembro quando entrei na Caatinga pela primeira vez…O sol se punha no horizonte tingindo o São Francisco de um caleidoscópio de tons ocres, formando uma imagem deslumbrante capaz de hipnotizar aquela adolescente, que do Sertão só ouvira falar do chão rachado e da carcaça de boi. Entretanto, mais surpreendente que aquele indescritível entardecer, foi me deparar com as “craibeiras” em flor do outro lado do caminho.

Eram tantas que pareciam um tapete de sol. Meu coração se derreteu e ali, especificamente ali, entre Petrolândia e Tacaratu, a Caatinga entrou em mim para nunca mais sair. Isso foi no século passado. Era primavera de 85.

Cinco anos depois chegaria a Petrolina com o sonho de contribuir para a distribuição da justiça. Como boa sagitariana, pra mim a vida só tem sentido se vivida com paixão. Fui trabalhar na Tribuna do Júri, tentando colocar homicidas atrás das grades. ⠀

Ser promotora criminal no Sertão de Pernambuco não era das tarefas mais fáceis, mas eu adorava aquilo. Fui deixando de gostar. Desiludida por só conseguir manter presos os pobres. E nem eram pretos, pobres e prostitutas. Havia muitos brancos também e das poucas mulheres em cujos processos trabalhei, nenhuma prostituta). ⠀

Sou lenta… Precisei de uma década para entender que o sistema processual penal era desigual. Àquela época, um indivíduo remediado, que conseguisse arcar com os custos de uma assessoria jurídica mediana, não permaneceria preso mais que ano, em regra. Enquanto isso, um financeiramente desassistido, possivelmente ficaria no cárcere até mais tempo que sua condenação.

Sentindo-me promotora de injustiça, fui, como dizem meus catingueiros, “caçar canto”. Minha próxima parada profissional roubou-me a verve da tribuna, mas devolveu-me a paixão às veias. Voltavam as “Craibeiras e o Velho Chico” que agora se encaixavam no eterno sonho de distribuir justiça. Dessa feita, justiça ambiental. Tentando implementar nossa moderna legislação de proteção ao meio ambiente, lutamos contra toda forma de poluição (embora alguns só lembrem da sonora), tentando colaborar para que pudéssemos conviver numa Petrolina cada dia mais ecologicamente equilibrada. Em breve no nosso site.

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